A Esperança de Poá

Desde a emancipação de Poá, a maior expectativa das populações passada e atual é o aproveitamento total da Fonte Áurea. Descoberta oficialmente por Caetano Mero, que ficou impressionado com o poder curativo da água que brotava de uma pedra negra e era usada pelo povo rural das chácaras próximas, a Fonte Áurea passou a ser o grande sonho de desenvolvimento para Poá.

            A começar pelo próprio Caetano Mero, que inaugurou a Fonte Áurea e criou até uma linha de ônibus para levar quem chegava de trem em Poá até a Fonte para conhecer a água e adquirir os lotes vizinhos.

Na década de 70, essa esperança de ver a cidade se estruturar em torno da melhor água radioativa do Brasil voltou a tomar força, quando Poá foi transformada em estância hidromineral. Tempos depois, por motivos políticos, virou estância turística, voltando a ser hidromineral, como é atualmente.

            Nos anos de 40 e 50, ter a nascente desta água era motivo de orgulho para os poaenses, pois se acreditava que as autoridades, sabedoras de sua importância, se empenhariam ao máximo para que o Brasil inteiro descobrisse o que Poá já sabia. Já se passaram mais de 60 anos e essa esperança ainda existe, apesar de não mais com a força de outrora.

            Na época em que Poá foi emancipada, esperava-se muito para a nova cidade. Cheia de lugares bonitos, especialmente no Poá Desconhecido, uma grande área de mata nativa, por onde corria o limpíssimo Rio Guaió, a pequena cidade próxima à Capital prometia uma boa qualidade de vida para todos.

            A Fonte Áurea seria o carro-chefe. Mas, quando virou estância, a exploração da Fonte foi passada para a “Tatuzinho” por vinte anos e depois por mais quarenta anos através de contratos com outras empresas, nunca muito bem explicados e que nenhum ganho trouxeram a Poá.

Tivemos alguns defensores de peso, como o radialista Vicente Leporace, que realmente reconheceu o valor de Poá ser transformada em estância para gerar sua independência financeira através da água. Como sempre, problemas políticos criaram uma indisposição entre Leporace e os políticos da época, que chegaram até a cassar o Título de Cidadão Poaense a ele concedido.

            A população continua esperando. É inacreditável e até interessante que de todos os prefeitos que Poá teve até então, nenhum tenha se mostrado disposto a tocar no assunto Fonte Áurea, desprezando as possibilidades que a cidade teria para explorar essa água. Disseram o mesmo que é dito até hoje: que vão fazer, mas o povo precisa compreender, é muito difícil e não sei o que e não sei o que mais.

            Todo 22 de março é comemorado mais um Dia Internacional da Água, com números assustadores para os próxima anos se não nos dermos conta da sua importância. Hoje, no mundo, dois bilhões de pessoas não têm água potável,  milhões de crianças morrem anualmente por água contaminada; a agricultura consome 70% da água doce que existe, significando que, se ela faltar, também ficaremos sem alimentos. Não podemos esperar que a sede e a fome nos ensinem a valorizar e a preservar a água.

            Enquanto isso, a Fonte Áurea, logo ali, jorra diária e religiosamente 20 mil litros da melhor água do mundo. Metade é vendida como qualquer água e a outra metade é jogada fora como esgoto. Todos nós temos o dever de cobrar dos governantes municipais uma posição clara em relação à Fonte: vamos resgatá-la agora e a transformar em nosso maior bem ou abandoná-la, deixando mais esse assunto para a lista de falhas que o futuro próximo terá para nos cobrar.

Com a Fonte Áurea estamos numa encruzilhada: ou mostramos ao mundo o tanto que somos incompetentes para escolher os administradores de nossos bens ou o tanto que sabemos reconhecer que estamos com um grande e valioso tesouro em nossas mãos. São mais ou menos 60 anos desde que Caetano Mero encontrou aquela preciosa mina entre os arbustos e até hoje, nada. Este é o momento e outro não haverá para consolidarmos esta Estância Hidromineral. PEDRO CAMPOS.