domingo, 16 de março de 2014

                                                                  #nãovaitercopa?

  Se considerarmos a realização plena do evento, há muito sabemos que não vai ter Copa nenhuma, independente da ação dos “antis”. O noticiário dá conta que quase nada será concluído conforme o acertado. No máximo, será uma meia Copa, ou uma Copa meia boca.
Aeroportos, metrôs, ônibus, estradas, hotéis, restaurantes, lazer, comércio, estacionamentos, sistemas de informação, tudo nota zero para o Brasil. Só se pensa aqui em multiplicar por cem os preços de tudo, das propinas ao cafezinho.
Desde o anúncio da realização da Copa aqui, já havia denúncias de compra do resultado do “sorteio” e toda a canastra de malandragens que se sucederia, como o premeditado atraso para haver o superfaturamento da construção dos estádios.
A arena de Brasília, por exemplo, já passou dos dois bilhões de reais, mais da metade do custo da malfadada Copa da África do Sul. Como ela, todas estão sendo mal feitas para serem abertas a tempo.
Quem se mantém informado, sabe em que situação se encontra a África do Sul, com estádios sucateados e a população, na época deslocada para a desgraça não aparecer nos holofotes, pior que antes. Só sobrou o insuportável ruído das vuvuzelas em nossa memória. Prova disso foi o amistoso do Brasil desta quarta em Joanesburgo, com arquibancadas vazias e os que foram, fingiam animação. Deprimente.
Diversos fatores reduziram a força dos movimentos contrários à Copa no Brasil, mesmo assim, parece que os incentivadores da expressão que inspirou o título deste artigo estão firmes em sua decisão. As redes sociais vivem repletas de mensagens afirmando que a Copa não vai acontecer.
Mas, a despeito de a grande imprensa estar apoiando o torneio, uma coisa dá para perceber: o povo está tomando consciência. No ano passado, quase 80% aprovava a realização da Copa, hoje, caíram para 45% os que ainda não acordaram para os problemas que advirão.
Que se saiba, mais de 30 bilhões já foram enfiado neste indesejável evento, no qual os brasileiros pagam, os estrangeiros usufruem e os políticos enriquecem. Além de jogar mais lama na imagem do país, tudo foi deixado para trás, saúde, educação, transporte, mobilidade, segurança pública, coleta de lixo, etc.
Um país que se leva a sério só realiza um evento deste porte quando está pronto plenamente para receber as câmeras e pessoas do mundo todo. Tem que estar com o aparelho turístico tinindo, principalmente.
Apenas para duas coisas o país está preparado, e muito bem: prostituição e força bruta contra manifestantes. Sobre o primeiro item, nem é preciso falar, mostraremos ao mundo como um subdesenvolvido país tropical desvaloriza suas mulheres e adolescentes.
Quanto ao sufocamento de manifestações, nisto sim, seremos os mais modernos. Noticia-se que três bilhões de reais já foram investidos em armas, caminhões jato-d’água, helicópteros, contratação de homens, treinamento, etc. E, para garantir, a Fifa ainda contratou 30 mil seguranças particulares. O massacre vai ser geral.
Por mais que sejamos o país do futebol, sairemos às ruas para comemorar com que cara? Sabemos que quanto mais a seleção do Brasil avançar com bons resultados, mais a roubalheira vai acontecer ocultada pela alegria do povo. Que graça tem ficar com a despesa do desperdício e a falta do que deveria realmente ser feito? pedrocfernandes@uol.com.br

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Assim não dá


Quando se imaginaria que a gente escutaria com tanta ênfase que “o negócio é ser bandido” ou “o crime compensa”? Pois é, vivemos esses dias. No início do século passado, Rui Barbosa dizia que sentia vergonha de ser honesto em meio a tanta desonestidade. Daí se convencer que ser bandido é a única maneira de sobreviver nesse mundo cruel é, no mínimo, decepcionante.
O que assistimos é estarrecedor. Policiais sendo os principais membros de quadrilhas de tráfico, assaltos e sequestros. Juízes vendendo a liberdade dos mais perigosos bandidos, políticos participando ou acobertando tudo, sistema prisional falido. Qual será o plano dos “sem-rosto” que controlam o poder? Se o povo já vive com medo de tudo, para que aterrorizá-lo?
Sabemos que a polícia não é onipresente para estar em todos os lugares ao mesmo tempo, e muito menos é adivinha para saber onde vai acontecer o crime. O que a população quer é a criminalidade reduzida a níveis aceitáveis com as autoridades mantendo o controle da situação. O que a se vê é exatamente o contrário.
Todos os especialistas em segurança pública já deram a receita, não dá para entender as razões do governo em se recusar a resolver a questão. Dinheiro não falta, todos sabem que o Brasil é dos mais ricos países do mundo, o povo é que é miserável. Os governantes adoram a TV para fazerem discursos emocionados cada vez que um crime tem repercussão. Ação que é bom, nada.
O primeiro passo é acabar com a corrupção e banditismo na polícia, punindo exemplarmente. Sabemos também que a maioria dos policiais é correta e responsável. O que não se pode aceitar é que alguns deles, pagos para cuidar da segurança das pessoas as sequestrem e as matem. Homens liberados para lidar com armas, andando em carros públicos, com combustível à vontade, munição e tudo o mais, sejam criminosos. A pena tem que ser em dobro.
            Em segundo lugar, pagar melhor os policiais, pois com esse salário de miséria poucas são as pessoas decentes que se submetem a uma profissão tão arriscada. Além do mais, os que não entram para o banditismo, são obrigados a fazer bicos para ajudar no fim do mês, aí viram motoristas, seguranças, porteiros, sempre revoltados com sua condição.
Em terceiro, manter os condenados nas cadeias, pois 80% dos piores crimes são cometidos por fugitivos de prisões. Aumentar a pena máxima de 30 anos para não sei quanto, construir presídios em locais distantes e incluir trabalho na pena.
Todo o mundo já sabe disso, há exemplo de países que já resolveram esse problema e a gente aqui desse jeito. Afinal, quais são os verdadeiros bandidos, os que roubam, sequestram e matam ou os que têm poder e obrigação de impedi-los e nada fazem, ou pior, os ajudam e os acobertam?
A situação está em descontrole total, crimes terríveis apavoram a população. E época eleitoral é o melhor momento para o povo pressionar as autoridades e exigir uma solução imediata. Do contrário, líderes populares receberão apoio para uma campanha pelo voto nulo contra esses picaretas que usam o poder para si e sua turminha. Pena que o brasileiro é dócil como um carneiro anestesiado. Em qualquer outro país, a reação do povo seria outra. Vamos acordar amigos! PEDRO CAMPOS.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Ganância, ignorância, má fé.


O planeta não é uma massa de pão que damos a ele a forma que quisermos. Há regras, como em tudo, a serem respeitadas. A natureza não é cruel, não se vinga, ela apenas vai se acomodando.
Esta afirmação está demonstrada com as catástrofes que abateram a nossa cidade, região e todo o país. Enchentes, desabamentos, quedas de barreiras, deslizamentos de encostas. Tudo seguido por mortes e tristeza. 
Estradas mal projetadas, rios e córregos desviados, pontes mal feitas, nascentes bloqueadas, barreiras,  cachoeiras artificiais e habitações em locais inadequados.
Não é mais concebível tantas áreas bem localizadas ficarem “estocadas” para especulações imobiliárias, enquanto a população se concentra em locais de risco.
Da mesma forma não se concebe que pessoas possam invadir paraísos em áreas de proteção ambiental e construírem suas mansões para temporadas.
Para os humanistas e ecologistas, é criminoso. Além do que, fica muito caro no final, o que não pode interessar aos governos, queiram ou não os empreendedores sem coração.
O Estatuto das Cidades, uma das melhores leis do governo Lula, dá as diretrizes para a racional ocupação do chão, que é de todos.
Os mais variados tipos de impactos são previstos e as formas de como evitá-los são descritas. Só erram os que querem.
Todo este sofrimento exibido à exaustão na mídia poderia ser evitado se a qualidade de vida com segurança dos cidadãos fosse prioridade para os governantes.
A quem devemos culpar? Ou melhor perguntando, a que se deve tanta desgraça? À natureza. Das pessoas.
Ganância do que vende, ignorância do que compra, má fé do que tem o poder de autorizar a concretização aquilo que pode comprometer o amanhã.
Os atuais administradores estão penando pelos erros do passado. Contudo, precisam ficar atentos pois, como estamos na era da velocidade,  pagarão pelos próprios erros. Esta é a melhor razão para não falharem.
Uma boa dica: Existe o termo “bom senso”, um estado de consciência que ajuda resolver qualquer situação. Quem pode negar que finais desastrosos são evitados quando se usa o bom senso?
Serei mais direto: o que pode, pode e o que não pode, não pode. É simples até demais para quem quer entender.
Recebemos um mundo melhor do que o que estamos entregando. Temos um compromisso, para não dizer um débito, para com as gerações futuras.
Interferir para evitar o pior é a obrigação de todos nós, os ditos formadores de opinião. A imprensa inclusive, porque esperar acontecer para registrar é função dos historiadores.
Não tem cabimento sofrer tanto por causa destas tragédias e esquecer tudo quanto o clima der uma trégua. Qualquer um, você, eu, podemos fazer algo agora. Para não lamentar depois. PEDRO CAMPOS.




domingo, 5 de fevereiro de 2012

O passo decisivo


 
Os que se consideram entendidos explicam que nós evoluímos aos poucos, como o subir de uma escada, sendo um degrau vencido de cada vez até chegarmos ao topo. Aí então, alcançariamos a lucidez, o bom senso, a iluminação, a compreensão de todas as coisas, ou sei lá o quê.
O Eneagrama, uma ciência com mais de quatro mil anos, muito usada pelos antigos e trazida à luz da atualidade pela psicologia moderna, ensina que não é assim. Nossa capacidade funciona como um pêndulo e o melhor exemplo é o nosso humor, ora estamos legais, ora estamos péssimos, basta um acontecimento besta para o pêndulo ir para o lado oposto, já reparou isso?
Estamos supereducados, algo nos irrita e lá vamos de anjo a demônio quase que instantaneamente. Em outras palavras: estamos sempre a um passo da situação oposta. Não é porque um dia descobrimos ou nos ensinaram que é feio explodir na cara dos outros, que nunca mais faremos isso.
Quer dizer, subimos diversos degraus e quando ficamos indignados, descemos correndo a escada para o primeiro degrau? Não parece razoável. O que nos separa da tristeza é o mesmo que nos separa da alegria: uma balançada do pêndulo ou, simplificando, um passo.
Se estivermos vivendo de uma maneira que nos infelicita, por que não nos tocamos? A programação que o sistema, através de seus diversos agentes, atualiza a cada instante em nossas mentes, não nos deixa perceber, não deixa o pêndulo mover-se para o outro lado, que só pode ser o melhor.
Porque se experimentarmos o quanto é prazeroso, não seremos idiotas de voltar para a situação anterior, e então tudo desabará para os controladores das nossas vidas.
Imagine-se sentado numa sala sentindo-se supermal e nem percebe ou, se percebe, não sabe o que é que o deixa assim. De repente, um som, uma luz, o faz mexer-se e todo o desconforto vai embora. O humor que não existia, aparece, a paciência de esperar, volta.
Tudo muda e retorna ao seu lugar. Até as cortinas da sala são notadas, o perfumado vaso de flores, o tranquilo aquário, a janela mostra um céu maravilhoso. E apenas uma posição era a responsável e apenas um gesto resolveu tudo. E assim são todas as coisas, um passo apenas nos separa da alegria de viver.
Mas, e o medo de ser feliz? Muitos, muitos mesmo, têm medo de ser felizes. Atrofiaram por terem ficado a vida toda na mesma posição. Quem vive muitos anos de joelhos, deve sentir dores horríveis ao tentar se levantar. Pra quê? – perguntam. Já estão com os joelhos calejados, a coluna vertebral, o pescoço, todo o corpo já se acostumou com o incômodo.
Além do mais, levantar-se significa ter de ver tudo por outro ângulo. Significa ter de se livrar de muito lixo acumulado, ter de jogar fora muitas porcarias tidas como joias, ter de desdizer tanta coisa que jurou acreditar. Significa libertar-se de tudo aquilo que passou a vida se amarrando, rir daquilo que sempre levou a sério. É demais!
E, se por um remoto acaso, resolvêssemos tomar nosso destino para nossa inteira e total responsabilidade, como explicaríamos essa nova atitude a todos que nos cercam? Não seríamos mais normais, seria como andar com as próprias pernas, correr, saltar, dançar, num mundo onde todos estão de muletas - os normais.
Porém, se você realmente se tocou de que chegou a hora de dar uma bosta, isto é, um basta em tudo isso, é porque está pronto para dar o passo, de mudar o pêndulo de lado, de aproveitar do seu próprio jeito o que lhe resta de vida.
Uma das ferramentas que vai ajudar a você encontrar uma saída é o Eneagrama. Saiba mais sobre ele, não se arrependerá. PEDRO CAMPOS.

Obs: Enea é "nove" e grama é "traço" em grego, por isso o Eneagrama é representado por uma estrela de nove traços, ou pontas. Sou especializado e facilitador sobre o assunto.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Sua majestade, o cigarro

“A vida é minha, estou prejudicando a mim e a mais ninguém”. Ora, é sabido que quando alguém fuma, fumam todos os que estão próximos, todos da família são obrigados a suportar e cuidar de um parente canceroso.  
O governo gasta milhões e milhões com campanhas antitabagismo, com tratamento e medicamentos para os fumantes crônicos. Então, a frase inicial deste texto é uma mentira.
Como tenho me relacionado com fumantes ultimamente, a questão acabou por tomar minhas reflexões e até invadiu as conversas. E o que se pode confirmar é que se alguém ousar se incomodar com um cigarro aceso é tido como o maior dos impertinentes.
Não que eu queira provocar os fumantes, mas somente sair em defesas dos não e ex-fumantes. Mesmo porque é sabido que não há argumento que os convença. Só a morte, prematura, os faz parar.
Tão poderoso é este vício, que os que adquirem câncer assumem estar dominados e que  não adiantaria parar de fumar. Os que ainda não foram tomados pela doença acreditam de verdade que nunca a contrairão. E, se contraírem, não será pelo cigarro.
Reportagens, fotos, artigos, pesquisas científicas, campanhas e leis proibitivas não são nada, não conseguem fazer pensar os fumantes, o que leva a crer que o soberano ditador, o cigarro, também lesa o cérebro dos seus escravos.
Pessoas com pele amarelada e flácida, olhos embaçados, respiração ofegante, tosse crônica, voz embargada, hálito e cheiro corporal sentido a metros, culpam até a inocente plantinha do outro lado da rua por sua situação.
Jogar fora o emprego, o amigo, a pessoa amada e a saúde dos outros, ainda vai, talvez esteja até precisando se livrar deles. Mas queimar lentamente a própria vida é mais difícil de explicar. De qualquer forma, o preço é muito alto por algumas baforadas diárias de prazer.
Se um viciado quer se livrar do cigarro, não haverá força no mundo que o impeça; se não quer, também não haverá força no mundo que o obrigue a deixar o cigarro.
O fumante que refuta a realidade para se por a favor do cigarro, beira o limite da insensatez. Trocar uma vida saudável e perder pessoas tão raras e tão caras para satisfazer a ordem de um tirano assassino é injustificável. Paciência, o que queremos é não ter que pedir desculpas por não fumar. PEDRO CAMPOS

sábado, 28 de janeiro de 2012

Não venha com sacolagem

Toda e qualquer ação que bloqueie o descarte de produtos industrializados na natureza é positiva. É indiscutível que as sacolas plásticas de supermercados são prejudiciais ao meio ambiente. Demoram mais de cem anos para desaparecer e muitos países já a aboliram.
Temos como alternativa as sacolas biodegradáveis, à base de amido de milho. Ocorre que estas também recebem plástico alterado em sua composição para, com determinada temperatura e umidade, se desfazerem em dois ou três anos. Mas estas micropartículas de plástico continuam no solo, como o outro, só que invisíveis. Em termos ambientais, qual a diferença?
Portanto, é discutível responsabilizar a sacola plástica por todos os males. Na Europa, os supermercados são obrigados a ter recipientes para o consumidor deixar todos os tipos de embalagens antes de sair com as suas compras.
Quer dizer, leva-se para casa quase a metade do volume, apenas o essencial. Aqui, 50% do que compramos são embalagens e, assim que chegamos, tiramos o que usaremos e jogamos tudo o mais no lixo, sem qualquer critério.
Cada cidadão põe para o lixeiro coletar 1.300k todo dia. O Brasil deverá produzir cerca de 180 mil toneladas diariamente, totalizando 80 milhões de toneladas de lixo doméstico em 2012.
Como é das regiões metropolitanas o maior volume, este lixo precisa ser levado cada vez mais para longe, tornando cada vez mais perigosa e cara esta operação. Qual a solução?
A legislação autoriza dispor em aterros sanitários. Mas não sabemos o que estamos deixando para as gerações futuras. Felizmente, outros países já resolveram este problema e poderemos buscar as respostas testadas e comprovadas ao longo dos anos. Mas este é um assunto para outro momento.
Com mais de 20 anos de atraso em relação à Europa e Ásia, está em vigor no Brasil a PNRS, Política Nacional de Resíduos Sólidos, através da Lei 12.305 de 2010. Entre muitas coisas, ela responsabiliza a todos os entes da cadeia dos resíduos, desde o importador ou fabricante, passando pelo comerciante, o consumidor e o município.
Todos têm obrigações para que as montanhas de lixo não sufoquem as cidades nas próximas décadas. Resta saber quando cada um fará a sua parte. E é melhor que seja agora. PEDRO CAMPOS

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Os invisíveis

Levantamos pela manhã e logo anoitece. O dia passa como um flash, deveria ter 25 horas! Reclamamos que elas voam muito rápido, não temos tempo para nada. A cabeça, a milhão, está no passado ou futuro, nunca no presente, no agora. 
Vivemos no automático e até os nossos filhos, pais e a pessoa que dizemos amar, ficam invisíveis. A correria, a rotina diária, o ganhar e o acumular, tornam invisível quase tudo o mais.
As pessoas fingem estar satisfeitas com o pequeno círculo de bajuladores que as rodeiam. Estes alimentam o seu ego, concordam com tudo e recolhem sua paga: algumas migalhas de atenção, alguns instantes de visibilidade.
Vamos de carro daqui para outra cidade e, quando nos damos conta, chegamos. As coisas passam por nós como rabiscos. Parece que só vemos nossos limitados e mesquinhos pensamentos.
Não temos chance de apreciar a paisagem, os novos prédios, praças ou as novidades que traz a mudança das estações do ano. Os acontecimentos do dia, a não ser o interesse em nós programado, ficam invisíveis.
Recentemente, uma campanha publicitária exibiu anúncios nos quais as pessoas abaixo da linha de pobreza só eram vistas por crianças. Eram invisíveis para os adultos. Estamos tão endurecidos que não funcionou.
A pseudossociedade se indignava ao assistir como eram tratados os dalitis naquela novela e não vê a própria discriminação com os que estão ao seu redor. Tudo gira em torno do status social. Quem tem menos que nós, não vemos; quem tem mais, não nos vê.
Já refletiu sobre o quão invisíveis são, por exemplo, as pessoas que fazem faxina nos shoppings, passam por entre as mesas, retiram as bandejas, esvaziam e limpam as lixeiras, enxugam o chão, sem que ninguém as veja? Não se sentiriam elas melhores com um obrigado, um oi ou um sorriso?
E os catadores de material reciclável, com seus imensos carrinhos e uma montanha de coisas que largamos nas ruas e praças? Já pensou o monturo que seria o centro da cidade sem esses invisíveis? Xingamos e buzinamos para que tirem seus carrinhos do trânsito, mas não os vemos.
A maioria das doenças sociais, como a depressão, a tristeza, a solidão, a infelicidade, são consequências da invisibilidade. No máximo, somos vultos e, para pouquíssimas pessoas somos, ocasionalmente, visíveis.
Relacionando-nos sadiamente com os que nos cercam, preparamo-nos para um dia, sabe-se lá quando, sermos espíritos e não fantasmas. Começaremos a ser notados quando começarmos a notar. De repente, vamos adquirindo consistência, tomando corpo e sendo vistos.
Bom é não esquecer que faz muito bem para a saúde, física e psicológica, passar por lugares diferentes, cumprimentar, conversar, rir, tocar. E, se surgir uma oportunidade, partir para um abraço. Pedro Campos.