terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Sua majestade, o cigarro

“A vida é minha, estou prejudicando a mim e a mais ninguém”. Ora, é sabido que quando alguém fuma, fumam todos os que estão próximos, todos da família são obrigados a suportar e cuidar de um parente canceroso.  
O governo gasta milhões e milhões com campanhas antitabagismo, com tratamento e medicamentos para os fumantes crônicos. Então, a frase inicial deste texto é uma mentira.
Como tenho me relacionado com fumantes ultimamente, a questão acabou por tomar minhas reflexões e até invadiu as conversas. E o que se pode confirmar é que se alguém ousar se incomodar com um cigarro aceso é tido como o maior dos impertinentes.
Não que eu queira provocar os fumantes, mas somente sair em defesas dos não e ex-fumantes. Mesmo porque é sabido que não há argumento que os convença. Só a morte, prematura, os faz parar.
Tão poderoso é este vício, que os que adquirem câncer assumem estar dominados e que  não adiantaria parar de fumar. Os que ainda não foram tomados pela doença acreditam de verdade que nunca a contrairão. E, se contraírem, não será pelo cigarro.
Reportagens, fotos, artigos, pesquisas científicas, campanhas e leis proibitivas não são nada, não conseguem fazer pensar os fumantes, o que leva a crer que o soberano ditador, o cigarro, também lesa o cérebro dos seus escravos.
Pessoas com pele amarelada e flácida, olhos embaçados, respiração ofegante, tosse crônica, voz embargada, hálito e cheiro corporal sentido a metros, culpam até a inocente plantinha do outro lado da rua por sua situação.
Jogar fora o emprego, o amigo, a pessoa amada e a saúde dos outros, ainda vai, talvez esteja até precisando se livrar deles. Mas queimar lentamente a própria vida é mais difícil de explicar. De qualquer forma, o preço é muito alto por algumas baforadas diárias de prazer.
Se um viciado quer se livrar do cigarro, não haverá força no mundo que o impeça; se não quer, também não haverá força no mundo que o obrigue a deixar o cigarro.
O fumante que refuta a realidade para se por a favor do cigarro, beira o limite da insensatez. Trocar uma vida saudável e perder pessoas tão raras e tão caras para satisfazer a ordem de um tirano assassino é injustificável. Paciência, o que queremos é não ter que pedir desculpas por não fumar. PEDRO CAMPOS

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