sábado, 31 de dezembro de 2011

Feliz Ano Novo?

Nós, brasileiros, somos um povo muito bom e coisa e tal, como costumamos nos achar. Tudo bem, mas temos o hábito de só reparar os que estão em situação melhor que a nossa e nunca os que estão piores. Isso nos aproxima da inveja, nos afastando da compaixão, isto é, o problema maior sempre é o nosso. Achamos que os outros fazem por nós é pouco e o que fazemos pelos outros é muito.
Esta época em que os cristãos comemoram o nascimento de Jesus e a passagem do ano gastando, comendo e bebendo mais da conta, seria a ideal para uma reflexão verdadeira. Verdadeira, eu disse. Não esse tipo de reflexão rasa que praticamos e pela qual concluímos que existem pobres e desamparados. Se for só assim, basta fazer umas caridadezinhas como no final do ano passado e pronto, estamos abençoados.
Outra coisa, não é só mandarmos pagar ou entregar que entra na conta a nosso favor, é mais o que fazemos pessoalmente, sacrificando horas de descanso ou de lazer. A nossa presença física, tocando, sentindo o cheiro, nos obrigando a superar decepções e ingratidões é o que nos torna melhores, mais conscientes da vida como ela é. Amor ao próximo requer prática silenciosa e constante.
Não, caro cristão, não é sobre essa farsa de dar esmolas e pequenas caridades que estou tentando falar, isso é auto-engano puro, papo de telenovela. A pergunta é: como chapar de tanto gastar, comer e beber até passar mal, quando milhares à sua volta, até familiares seus, não têm com o que se alimentar? A resposta sempre é: já ajudo a alguns e não posso resolver o problema de todos. Este é o seu consolo para continuar impassível, festejando o nascimento do cara que veio para nos alertar que desse mundo nada se leva além das boas ações que fazemos contra a miséria humana?
Tem uma história na Bíblia contando que Jesus abençoou a vida da mulher que entregou duas moedas e não deu valor ao homem que ofertou cem moedas. Ela deu muito mais, pois era tudo o que tinha e ele, nem um milésimo. Por isso que pouco muda a ajuda que damos, já que podemos fazer muito mais sem nos fazer falta. É melhor não dar nada e assumir que a vida é cada um pra si, pelo menos é uma atitude sincera.
O mundo é assim, tudo bem, mas não se engane que vão trazer umidade as poucas gotas que deixa cair no deserto. Finja que não existem crianças e velhos desamparados. Acredite que a fada jogou pó de pirlimpimpim em sua cabeça pra você ficar jovem, bonito e saudável para sempre. Fique com tudo o que acumula para si e, mais breve do que imagina, alguém irá sussurrar a alguém: esse aí deve ser o mais rico desse cemitério, apontando para o seu suntuoso túmulo.
Se não quer, ou por avareza não consegue repartir, compartilhar, celebrar a vinda do ser divino ao nosso planeta para deixar amor e perdão à humanidade, pelo menos respeite quem reconhece isso de coração. Respeite aquele que, de mãos dadas com sua família ao redor de uma pobre mesa, ora agradecendo mais um dia. Este sim, vive o significado dsta época do ano.
Já que o seu hipócrita e endurecido coração não pode ser tocado pela força crística, pelo menos não exagere e, em nome da sua fortuna, não desperdice. Lembre-se que não são apenas você e os mais ricos que você, em orgias e banquetes em palácios, iates e aviões que querem comemorar esta data. Nos orfanatos, asilos, prisões, hospitais e casebres é que Cristo estará tão presente que alguns até poderão vê-lo.
            Como você, também estou cheio de defeitos, mas disso que escrevi aí em cima tenho certeza. Podemos até ter um próspero ano, mas sei que não será feliz  enquanto a grande maioria dos nossos semelhantes estiver com nada e uma minoria com tudo. É uma sensação falsa, uma felicidade artificial, um riso forçado, uma ceia indigesta. Admiro a frieza dos que são capazes de, em janeiro, dizer que tiveram boas festas. PEDRO CAMPOS

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