terça-feira, 3 de janeiro de 2012

O poder e a imprensa


Administradores públicos, políticos e artistas entendem que repórteres, redatores e fotógrafos têm a obrigação de registrar fartamente tudo o que eles querem que o mundo saiba. Da mesma forma exigem que simplesmente omitam tudo o que consideram negativo.
Entendem os homens públicos que o fato de eles fazerem anúncios com o dinheiro do povo é a paga que dão para controlarem os órgãos de imprensa e alguns até se sentem no direito de pautarem o noticiário.
Por sua vez, a maioria da pequena imprensa é clandestina e existe para achacar, ameaçar e extorquir qualquer um que possa ser prejudicado por uma má notícia. Nem vendem mais espaços publicitários, apenas cobram para não sujarem a imagem de um político, empresa ou produto.
Muito difícil tem sido o relacionamento entre o poder e os meios de comunicação. O fato é que, principalmente os políticos, têm de pisar em ovos quando se trata de lidar com a imprensa. Existem até cartilhas que contêm técnicas e regras básicas para se lidar com essa “raça”.
Uma imagem que se demora anos para ser construída, vai pelo ralo de um dia para o outro, de um instante para o outro. É muito fácil se destruir um castelo, difícil é construí-lo.
Ao prejudicado, a lei garante o “direito de resposta” e “retratação”, através dos quais se promove um desmentido caso se evidencie o erro ou a má fé do jornalista ou órgão de imprensa. Aquele que se considera vítima pode até apelar para o processo por injúria, calúnia e difamação, com base no Código Civil.
Outros, mais estressados, vão ao extremo de ameaçar de morte os autores da notícia ou comentário que os ofendeu e uma minoria chega até a pagar para “fechar” um jornalista que não a agrada.
Mas até aí, a notícia ruim já se espalhou que nem fogo em capim seco. Nenhuma das atitudes possíveis a faz desaparecer, mesmo porque é muito fácil fazer o povo acreditar que políticos são incompetentes e corruptos, impossível é o contrário.
Então, mesmo a loucura de mandar matar só satisfaz a um desejo de vingança, mas o sabor é muito amargo e também não apaga a notícia, pelo contrário.
O que resta? Bem, há regras básicas. Primeiro, o homem público deve ter consciência do significado dessa palavra: público. Ele não mais tem vida particular, quem vive do dinheiro público perde a privacidade. O que ele fizer ou deixar de fazer, se o jornalista quiser, é notícia e ponto final.
Segundo, o político precisa entender que o fato de o jornal falar bem dele é ótimo, criticá-lo é muito bom, falar mal de vez em quando não é tão ruim. Não falar nada ou falar mal o tempo todo é péssimo.
E a culpa disso é do político, pois este tem a obrigação de criar fatos para que o contribuinte, aquele cidadão que paga os seus salários, saiba o que anda aprontando. Portanto, para sobreviver, o político sabe que precisa que a imprensa exista e fale dele, de preferência bem.
A imprensa sabe o que o povo quer, a imprensa sabe que o povo põe um grupo de pessoas no poder e, em seguida, quer derrubá-lo, sabe que o povo gosta de saber das desgraças, das falhas, das quedas.
É muita ilusão esperar que se leiam páginas e páginas de elogios e muito menos que se acredite nelas. Falar que político é bom não é para a imprensa, é para profissionais de marketing, para agências de publicidade.
Até que a imprensa se conscientize de seu papel de informar sem se vender ou extorquir e os homens públicos percebam que corromper ou ameaçar não os tornam mais poderosos, é necessário considerar que esses últimos são muito mais vulneráveis e têm muito mais a perder. É obrigação deles saber lidar com ela, mesmo porque ela também é poder.

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