sábado, 14 de janeiro de 2012

Qualquer coincidência é mera semelhança

Os leitores que acompanham meus artigos decerto já notaram meu espírito de enfrentamento em favor de verdades incontestáveis, muitas vezes ferindo interesses dos que vivem ocasionalmente do poder. Essa atitude contestatória me faz ter uma boa lista de adversários (medíocres, mas adversários).
O que quero dizer é que, para compensar a agitação do meu cotidiano, separo momentos para pesquisas e reflexões sobre tudo, principalmente sobre o sentido da vida. Numa dessas, encontrei-me ponderando sobre um antigo conto oriental:
            “Era uma vez um riquíssimo mago que possuía numerosos rebanhos de carneiros. Como todo rico e poderoso, era muito avarento e não contratava pastores nem punha cerca em torno dos campos de pastagem. Acontecia que os carneiros aventuravam-se no horizonte, extraviavam-se nas matas, caíam nas ribanceiras e se perdiam.
            Além de tudo, fugiam quando o mago se aproximava, porque sentiam que o que ele queria era tirar a sua lã, arrancar-lhes a pele e a carne. E os carneiros não gostavam disso, aliás, odiavam. Eram carneiros, mas não eram totalmente bestas. O miserável do mago detestava isso também, já que lhe trazia prejuízos.
            Finalmente, o mago encontrou a solução: hipnotizou a carneirada toda e a sugestionou que ele era um excelente e amoroso pastor, que adorava cada um deles e que estava pronto para qualquer sacrifício pelos rebanhos. Também os convenceu o mago que eles eram imortais e que o fato de serem esfolados não lhes causava mal algum, pelo contrário, era um ótimo e agradável tratamento para a saúde dos carneiros.
Enfim, deu-lhes a certeza de que nada poderia acontecer a eles, portanto não tinham razão para se atormentarem. Depois disso tudo, meteu na cabeça dos carneiros que não eram, absolutamente, carneiros. A alguns assegurou que eram leões, a outros, lobos; a outros, águias e por aí foi. A outros convenceu ainda que eram humanos inteligentes ou magos da melhor linhagem.
            Assim, nunca mais os carneiros lhe causaram aborrecimentos nem inquietações. Não fugiam, até faziam festinha, saltitavam e baliam de contentamento ao avistarem o mago. Mais ainda, ficavam superfelizes quando chegava a hora de serem tosquiados e degolados”. 
            Esse conto ilustra singelamente a situação humana e pouco mais poderia ser escrito. O medo da responsabilidade diante da vida e dos riscos que a verdadeira liberdade impõe nos aterroriza e nos leva a agarrar em qualquer coisa que transmita algum tipo de firmeza, mesmo que seja falso. O auto-engano é cômodo e tranquilizante.
            Fazemos a parte mais fácil, julgando que é a mais difícil, que é garantirmos nosso bem estar material. Os outros assuntos, os que não podemos ver ou pegar com a mão, adiamos e deixamos que alguém cuide e é aí que a coisa pega. Os magos de plantão o que mais querem é exatamente isso.
            Como não sabemos o rumo da porta de saída, damos graças a Deus quando aparece um mago que nos pastoreie. Se por um instante, dizem os despertos, nos déssemos conta da nossa real situação, se percebêssemos que estamos desperdiçando o maior tesouro, imediatamente iríamos para a saída, que está ali, escancarada. Só não a enxergamos por causa do estado de profunda hipnose. Vamos acordar, amigo!

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